Foto: Ian Williams - The New York Times
À sombra das maciças torres negras da sede de um banco no centro de
Toronto, uma bolinha de penugem cinza despencou até a calçada.
Era uma ave da espécie Regulus satrapa que tinha se chocado com o
icônico edifício Toronto-Dominion Center em algum lugar lá no alto.
Não existe um ranking das cidades mais mortíferas para as aves
migratórias. Mas, quando uma equipe britânica de documentários sobre a
natureza quis filmar casos de aves que morriam ao se chocar com vidro, o
ornitólogo Daniel Klem Jr., do Muhlenberg College, em Allentown, na
Pensilvânia, recomendou a cidade de Toronto. "Lá, possivelmente devido
ao número de edifícios e de aves, a situação é mais dramática do que em
outros lugares", segundo ele.
São tantas as aves que se chocam contra as torres de vidro da cidade
mais populosa do Canadá que voluntários percorrem o distrito financeiro
todas as manhãs, em busca delas. Eles levam redes do tipo usado para
capturar borboletas para resgatar aves feridas ou recolher as que estão
mortas.
O grupo responsável pela patrulha das aves, chamado de Flap, estima
que até 9 milhões de aves por ano morrem ao se chocar com edifícios em
Toronto. Michael Mesure, que fundou o grupo há 19 anos, certa vez
recuperou 500 aves mortas numa única manhã.
O horizonte urbano de Toronto começou a se elevar na década de 1960,
formando um paredão de estruturas envidraçadas ao longo das margens do
lago Ontario. A barreira se interpõe no meio de várias rotas importantes
de vôos migratórios. Os edifícios são as primeiras estruturas grandes
que as aves encontram quando voam para o Sul, vindas da natureza
selvagem.
Depois de reivindicar que a prefeitura inclua a segurança das aves no
código de projeção de edifícios novos, o Flap começou a recorrer aos
tribunais para proteger as aves. Está participando de dois processos na
Justiça, baseando seus argumentos em leis que visam a proteção de aves
migratórias contra a caça e perigos industriais e processando os
proprietários dos edifícios.
Gaivotas à espreita
Mesure apontou para um bando de gaivotas trepadas em árvores
próximas de um edifício de escritórios. Segundo ele, as gaivotas estavam
esperando para devorar as aves menores mutiladas ou mortas pelo
impacto.
O edifício tem fachada de vidro que desorienta as aves ao refletir as
árvores em volta. Enxergando o reflexo como um habitat, as aves voam em
sua direção em alta velocidade. Boa parte das vítimas é formada por
aves canoras.
Talvez em função da familiaridade com o ambiente urbano, pardais,
pombas e gaivotas têm muito menos chances de trombarem com vidro,
segundo Klem.
Membros do Flap soltam as aves atordoadas num parque. As aves feridas são levadas a um centro de reabilitação de animais.
Com os locais das mortes assinalados nos sacos de papel em que são
guardadas, as aves mortas são colocadas num freezer na sede do FLAP.
Embora a migração outonal mal tivesse começado, o freezer já estava
quase cheio, contendo desde corujas até colibris.
De acordo com Mesure, um método eficaz, embora pouco apreciado, para
reduzir o perigo para as aves, consiste em cobrir a parte externa das
janelas até a altura das copas das árvores com filme plástico perfurado
(do tipo usado para converter ônibus em painéis publicitários). O grupo
constatou que um padrão repetitivo de pequenos círculos é eficaz e
provoca menos objeções estéticas.
No caso de edifícios novos, desenhos podem ser gravados no vidro. Uma
empresa de vidro alemã está desenvolvendo janelas que, ela espera, vão
aproveitar a capacidade das aves de enxergar luz ultravioleta, incluindo
no vidro desenhos de alerta que são invisíveis aos humanos.
A última parada feita pelos ativistas naquela manhã demonstrou que
não são apenas arranha-céus que são letais. Um chapim e uma
trepadeira-azul-do-canadá estavam no chão diante de um pequeno prédio
industrial com vidro espelhado azul que refletia um bosque. Enquanto
Paloma Plant, uma funcionária do Flap, recolhia as aves, bandos de
chapins sobrevoavam a construção, escapando por pouco da colisão.
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